
“Tantas vezes podemos pensar que descobrir a nossa vocação é como receber uma ligação especial da CIA dizendo para qual missão devemos seguir. Pensamos que ela está distante, como um sonho, uma quimera, que a nossa realização seja abraçar um balão que voa, uma cruz que passa. Mas não, a nossa vocação está dentro de nós. ”
Assim se inicia um pensamento da escritora Rayhanne Zago meditando sobre a tal “vocação”, aquele chamado místico, talvez esotérico, de uma missão – esperamos sempre grandiosa e transcendental – que nos anunciaria, quem sabe mesmo através de um anjo, o grande desígnio de nossa vida, nossa missão última, uma espécie de chamamento definitivo de uma grande aventura que Deus necessita que façamos… porque somos bons e capacitados para isso!
Não parece, entretanto, que seja bem assim.
Deus nos criou com uma razão de ser e existir, com uma missão tão única e especial que a vocação está estritamente atrelada a nossa personalidade. Descobri-la, entrementes, não é tanto ouvir a voz de um anjo, senão conhecer a nós mesmos, os nossos talentos e inclinações naturais, a história em que Deus tem nos encaminhado.
A nossa vocação não é tanto exclusivamente sobre a eleição de um estado de vida, mas mais profundamente, é sobre o que fazer com a nossa vida, ou como disse Gandalf “com o tempo que nos é dado”. Por isso as vocações são tão múltiplas quanto dinâmico e criativo é o autor delas, o Divino Espírito Santo, o único escultor das almas!
A vocação é essa atração que nos move para algo, como uma chama ardente que nos impele a amar. Amar a Deus como fim último, mas entre mim e Deus, o outro. A vocação não é um momento; e sua descoberta não é como o encontro a um desconhecido: ela está acontecendo na serenidade dos nossos dias, está na nossa constituição pessoal.
A vocação não é um chamado desencarnado, descolado da nossa realidade. Não é como preencher um formulário. Ela é um encontro enquanto descoberta: nós mesmos, Deus e do outro. É fincar raízes e encontrar o nosso lugar no mundo, não como algo estático e engessado, mas sim porque descobrimos a forma única com que somos amados e então com que somos chamados a amar.
Descobrir a nossa vocação é ser obediente. Porque ninguém que é desobediente seria útil em qualquer missão que seja. Nosso orgulho, transbordando de soberba, nos cega e nos faz acreditar que somos maiores do que, de fato, o somos. Por isso é tão difícil obedecer.
Se notarmos bem, nossa missão é, acima de tudo, amar a Deus. Mas amar a Deus só pode ser manifesto por meio do amor aos homens, por meio da abnegação, do abrir mão de nossas vontades em favor do outro, independentemente se “nos sentimos bem” com isso. Porque o que atrapalha a vida missionária é, sem dúvida, o nosso querer. Sim, o nosso querer, porque desejamos sempre os primeiros lugares…
Assim, nossa vocação é, antes de tudo, um convite à disciplina, à regularidade, ao deixar-se ser conduzido por Deus. Deixar que Ele fale, e que, se preciso, digamos algumas poucas palavras. Ninguém poderá ser uma Madre Teresa de Calcutá da noite para o dia!
É preciso ser fiel no pouco, nas pequenas coisas. E, então, o Senhor pode fazer grandes coisas. Eis-me aqui Senhor!
Esperar uma missão grandiosa sem a fidelidade no mínimo que seja, em ser obediente aos Mandamentos, a estar disposto a perder, a ser o último… então não haverá chamado algum, missão alguma, uma vez que nos dispusermos a apenas fazer a nossa própria vontade.
Cícero Mota