
A igreja é a voz profética (de Deus) no mundo. A política (politikos em grego) para a etimologia possui significado filosófico e histórico de participação na comunidade.
Aristóteles ensinava que o ser humano é um animal político, isto é, um ser que busca a vida em comunidade. Desse modo, a filosofia clássica definiu política, tendo em vista a necessidade do povo de uma cidade participar da sua administração. Da Grécia antiga pra cá, o termo, na prática, foi perdendo o seu significado original, já que para o senso comum “política” se tornou uma espécie de bicho-papão. Isso em razão de uma série de escândalos envolvendo personalidades políticas, ou seja, indivíduos eleitos pelo povo (para administrar cidades) que se abstiveram dos interesses para os quais foram eleitos – para se beneficiarem com o poder que a política hoje proporciona. Infelizmente a história deixou e continua deixando rastros indeléveis de corrupção.
No Brasil tivemos o maior esquema de corrupção da história humana (o petrolão); por isso, talvez, a imagem que o cidadão comum tem do político e do religioso seja de dois indivíduos que não podem comer na mesma mesa. No século XVI, com o advento da Reforma Protestante, várias indagações surgiram: o cristão (Protestante) pode participar da política? De pronto um grupo (ou manifestação) cogniminado Anabatista, composto por cristãos protestantes radicais, respondeu: “claro que não!”. Contudo, entre as personalidades protagonistas da Reforma Protestante o entendimento foi de que a igreja, por meio dos seus membros, não só pode como deve participar das discussões políticas como, também, exercer o direito ao voto. João Calvino, por exemplo, exerceu com muita eficiência a política em Genebra.
Ele foi o administrador de Genebra por anos. A chegada em Genebra se deu em 1536, ficou dois anos ausente (de 1538 a 1540) por conta de um motim contra a sua pessoa e do seu amigo Farel. Do seu retorno em 1540 até sua morte em 1564, Calvino, se dedicou a administrar com muito zelo a cidade de Genebra. Por conta da excelente administração feita, por ele, Genebra se tornou a época a cidade padrão da Europa do século XVI. Com isso, podemos concluir que quando há a preocupação em exercer o que a palavra política significa acontece a verdadeira política e ela (a Política) passa a ser vista como aquela que é bem-vinda, tanto para a religião, quanto para os alheios a ela. Outro grande exemplo, para ratificar, de que a política e a religião podem sentar na mesma mesa, é o do grande Abraham Kuyper, já que ele foi um político, estadista e teólogo holandês (que a convite da rainha em 1901 formou um ministério; ele próprio foi primeiro ministro de 1901 a 1905). Os feitos desse homem foram tão grandes que em 1907, por ocasião do seu 70° aniversário, foi realizada uma celebração nacional. O reconhecimento da Holanda de que sem Kuyper a política não teria sido exercida em favor do povo é inegável.
A dica, portanto, que fica é: se olharmos para os políticos corruptos como olhamos para uma religião radical, com raízes históricas no anabatismo, vamos conclui que política e religião não devem sentar na mesma mesa.
Paulo Xavier